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segunda-feira, 3 de maio de 2010

Carlos Drummond de Andrade



Vou convidar ele para passar um tempo na Casa do Artista Riograndense






Poema de Carlos Drumond na nota de 50 Cruzados Novos

Canção Amiga
Eu preparo uma canção em que minha mãe se reconheça todas as mães se reconheçam, e que fale como dois olhos. Caminho por uma rua que passa por muitos países. Se não me vêem, eu vejo e saúdo velhos amigos. Eu distribuo um segredo como quem ama ou sorri. No jeito mais natural dois carinhos se procuram. Minha vida, nossas vidas formam um só diamante. Aprendi novas palavras e tornei outras mais belas. Eu preparo uma canção que faça acordar os homens e adormecer as crianças.
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Em 1989, quinze meses após sua morte, começou a circular a cédula de 50 cruzados novos, que homenageava o poeta e trazia no anverso este poema. Infelizmente, com a espiral inflacionária e a rápida sucessão de moedas (cruzado novo, cruzeiro, cruzeiro real), a homenagem durou pouco. A cédula saiu de circulação em outubro de 1992.
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"Canção Amiga" foi musicada por Milton Nascimento. Clube da Esquina 2, 1978.



Carlos Drummond de Andrade





A BUNDA QUE ENGRAÇADA

Está sempre sorrindo, nunca é trágica. Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se. Existe algo mais? Talvez os seios. Ora – murmura a bunda – esses garotos ainda lhes falta muito que estudar. A bunda são duas luas gêmeas em rotundo meneio. Anda por si na cadência mimosa, no milagre de ser duas em uma, plenamente. A bunda se diverte por conta própria. E ama. Na cama agita-se. Montanhas avolumam-se, descem. Ondas batendo numa praia infinita. Lá vai sorrindo a bunda. Vai feliz na carícia de ser e balançar. Esferas harmoniosas sobre o caos. A bunda é a bunda, redunda.
Carlos Drummond de Andrade - O AMOR NATURAL 1930

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MÃOS DADAS
Não serei o poeta de um mundo caduco. Também não cantarei o mundo futuro. Estou preso à vida e olho meus companheiros. Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças. Entre eles, considero a enorme realidade. O presente é tão grande, não nos afastemos. Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas. Não serei o cantor de uma mulher, de uma história, não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela, não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida, não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins. O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade

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NÃO DEIXE O AMOR PASSAR
Quando encontrar alguém e esse alguém fizer seu coração parar de funcionar por alguns segundos, preste atenção: pode ser a pessoa mais importante da sua vida. Se os olhares se cruzarem e, neste momento,houver o mesmo brilho intenso entre eles, fique alerta: pode ser a pessoa que você está esperando desde o dia em que nasceu. Se o toque dos lábios for intenso, se o beijo for apaixonante, e os olhos se encherem d’água neste momento, perceba: existe algo mágico entre vocês. Se o primeiro e o último pensamento do seu dia for essa pessoa, se a vontade de ficar juntos chegar a apertar o coração, agradeça: Deus te mandou um presente: O Amor. Por isso, preste atenção nos sinais - não deixe que as loucuras do dia-a-dia o deixem cego para a melhor coisa da vida: O AMOR.




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Se procurar bem você acaba encontrando não a explicação (duvidosa) da vida, mas a poesia (inexplicável) da vida. –
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As Sem-razões do Amor


Eu te amo porque te amo. Não precisas ser amante, e nem sempre sabes sê-lo. Eu te amo porque te amo. Amor é estado de graça e com amor não se paga. Amor é dado de graça, é semeado no vento, na cachoeira, no eclipse. Amor foge a dicionários e a regulamentos vários. Eu te amo porque não amo bastante ou demais a mim. Porque amor não se troca, não se conjuga nem se ama. Porque amor é amor a nada, feliz e forte em si mesmo. Amor é primo da morte, e da morte vencedor, por mais que o matem (e matam) a cada instante de amor.
Carlos Drummond de Andrade

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O amor antigo tem raízes fundas, feitas de sofrimento e de beleza. Por aquelas mergulha no infinito, e por estas suplanta a natureza. Mais triste? Não. Ele venceu a dor, e resplandece no seu canto obscuro tanto mais velho quanto mais amor.
Carlos Drummond de Andrade

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A Verdade


A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava só trazia o perfil de meia verdade, e a sua segunda metade voltava igualmente com meios perfis e os meios perfis não coincidiam verdade... Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta, chegaram ao lugar luminoso onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela e carecia optar. Cada um optou conforme seu capricho, sua ilusão, sua miopia.
Carlos Drummond de Andrade

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